Há muito tempo, recebi um e-mail da minha mãe, com um poema. Mas, ainda hoje, ele faz muito sentido pra mim, por conta dessa minha "maldita mania de viver no outono"...
Quase
Ainda pior que a convicção
do não e a incerteza do talvez é a desilusão
de um quase.
É o quase que me incomoda,
que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido
e não foi.
Quem quase ganhou ainda joga, quem
quase passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo,
quem quase amou não amou.
Basta pensar nas oportunidades que
escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas
idéias que nunca sairão do papel por essa maldita
mania de viver no outono.
Pergunto-me, às vezes, o que
nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor não me pergunto,
contesto. A resposta eu sei de cor, está estampada
na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão
dos abraços, na indiferença dos "Bom dia",
quase que sussurrados. Sobra covardia e falta coragem até
pra ser feliz.
A paixão queima, o amor enlouquece,
o desejo trai.
Talvez esses fossem bons motivos para
decidir entre a alegria e a dor, sentir o nada, mas não
são. Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar
não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris
em tons de cinza.
O nada não ilumina, não
inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que
cada um traz dentro de si.
Não é que fé
mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance,
para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente
paciência porém,preferir a derrota prévia
à dúvida da vitória é desperdiçar
a oportunidade de merecer.
Pros erros há perdão;
pros fracassos, chance; pros amores impossíveis, tempo.
De nada adianta cercar um coração
vazio ou economizar alma. Um romance cujo fim é instantâneo
ou indolor não é romance.
Não deixe que a saudade sufoque,
que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar.
Desconfie do destino e acredite em
você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo
que planejando, vivendo que esperando porque, embora quem quase
morre esteja vivo, quem quase vive já morreu.
(Autoria
atribuída a Luís Fernando Veríssimo,
mas que ele mesmo diz ser de Sarah Westphal Batista da
Silva, em sua coluna do dia 31 de março de 2005 do
jornal O Globo)